Para Marshall Rosenberg, o desenvolvedor da Comunicação Não Violenta (CNV), essa é uma abordagem que surgiu não apenas para evitar conflitos, mas também para fortalecer a empatia e a interação entre os funcionários, bem como para proporcionar um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.
O tema é cada vez mais urgente. Afinal, a comunicação é uma das chaves para o sucesso de qualquer empresa.
Então, entenda agora o que é Comunicação Não Violenta, quais são seus benefícios e como o RH pode implementar essa cultura no dia a dia corporativo de forma prática e objetiva!
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O que é Comunicação Não Violenta
O termo foi criado em 1960 por Marshall Rosenberg, que defendeu que a Comunicação Não Violenta deve ser transparente, consciente, empática e sem ofensas.
Não por acaso, o ambiente de trabalho é um dos locais onde essa prática faz toda a diferença.
A Comunicação Não Violenta (CNV) constrói pontes entre as pessoas ao promover escuta ativa, empatia e clareza, e transforma a maneira como equipes e líderes se relacionam.
Quando a voz de cada colaborador é ouvida e valorizada, a CNV se consolida como uma ferramenta que resolve inúmeros problemas e fortalece as conexões humanas, criando um clima de confiança.
No ambiente corporativo, ela é especialmente útil para lidar com desafios complexos. Ao dar feedbacks construtivos, mediar conflitos e melhorar a comunicação interna, as organizações conseguem alinhar expectativas, minimizar desgastes e gerar mais engajamento.
Vale dizer, ainda, que essa estratégia é aplicada na comunicação verbal (escrita ou falada) e na comunicação não verbal (gestos, expressões faciais e corporais, imagens ou códigos).
Os quatro pilares da Comunicação Não Violenta
A CNV é dividida em quatro pilares: observação, sentimentos, necessidades e pedidos. Veja abaixo medidas práticas sobre como utilizá-los no dia a dia.
Observação sem julgamentos
A observação é a primeira parte de uma comunicação não violenta. Ela consiste em analisar uma situação sem adicionar interpretações, julgamentos ou juízos de valor.
Na prática, o interlocutor deve mediar a resolução do conflito sem criticar, trocando, por exemplo, “Você nunca entrega nada no prazo” por “Notei que as últimas entregas foram realizadas após o prazo combinado”.
Identificação e expressão de sentimentos
A identificação e expressão de sentimentos devem ser baseadas em uma comunicação honesta e respeitosa, sem reprimir os sentimentos ou julgá-los como fraqueza. Afinal, não comunicar o problema não fará com que ele desapareça.
No contexto da gestão de pessoas, essa abordagem é especialmente útil em feedbacks ou conversas difíceis. A ideia é criar espaço para um diálogo aberto, o que permite que todos entendam o que está acontecendo e trabalhem juntos em soluções efetivas.
Veja alguns exemplos de frases úteis para aplicar esse pilar da CNV:
· “Em me preocupei com você ao perceber que o relatório foi entregue fora do prazo e sem a qualidade que costuma entregar”;
· “Senti apreensão quando você me cobrou a tarefa antes do prazo que combinamos, pois isso me dá a sensação de que preciso correr contra o tempo, e esse não é o contexto em que entrego a melhor performance”.
Reconhecimento das necessidades
Reconhecer as necessidades é o terceiro pilar da CNV. Ter clareza sobre o que foi solicitado pelo emissor certamente otimiza o percurso da comunicação.
Por exemplo, em vez de supor o que a equipe e outras lideranças esperam de uma iniciativa interna, pergunte abertamente quais resultados desejam alcançar ou quais pontos consideram prioritários.
Assim, você cria um ambiente mais transparente e direcionado a soluções práticas, que valoriza a escuta de necessidades e usa essas informações de forma pragmática.
Formulação de pedidos claros e concretos
O último pilar é a formulação de pedidos diretos e objetivos para evitar interpretações ambivalentes.
Na prática, isso pode ser comunicado de forma transparente, substituindo “Por favor, me envie suas sugestões quando puder” por “Gostaria que você revisasse o documento e adicionasse seus comentários até sexta-feira”.
Benefícios da Comunicação Não Violenta no ambiente de trabalho
A aplicação da CNV no ambiente corporativo resulta em benefícios qualitativos e quantitativos, que atingem a produtividade, o clima organizacional e até os resultados financeiros.
Veja alguns exemplos de CNV no trabalho que geram resultados no dia a dia.
Melhoria na participação e retenção de talentos
Além de bons salários, os colaboradores buscam cada vez mais organizações que estejam alinhadas com seus propósitos pessoais.
Desenvolver-se profissionalmente em uma empresa que tem uma cultura de comunicação aberta transmite uma sensação de pertencimento e valorização.
Seguindo essa premissa, indicadores como a taxa de turnover e o Employee Net Promoter Score (eNPS) costumam melhorar quando a CNV é implementada como parte da cultura.
Indiretamente, a melhoria dessas métricas impulsiona outras, como a redução de custos com demissões e contratações.
Redução de conflitos interpessoais
Além de minimizar o risco de atritos pontuais, a CNV incentiva a construção de relações pautadas pela empatia e pelo respeito, o que reflete em indicadores tangíveis e estratégicos.
Isso pode ser medido por indicadores como taxa de absenteísmo, tempo médio de resolução de conflitos e quantidade de denúncias de assédio moral.
Fortalecimento da cultura organizacional colaborativa
A Comunicação Não Violenta ajuda as empresas a criar um terreno fértil para relações mais genuínas e engajadas para que RH, gestores e colaboradores passem a caminhar na mesma direção, guiados pelos mesmos valores.
Esse alinhamento não é apenas teórico: é percebido em pesquisas de clima mais positivas, maior adesão a treinamentos e iniciativas colaborativas que, antes, não tinham tanto espaço ou comprometimento por parte dos stakeholders.
Representa uma mudança de perspectiva que fortalece a cultura organizacional, consolidando-a como um ecossistema de escuta ativa, apoio mútuo, abertura ao diálogo e senso de pertencimento.
Impactos financeiros e operacionais
Alguns indicadores financeiros podem ser indiretamente influenciados pela CNV, como:
- custo de turnover: redução de gastos com recrutamento, seleção, integração e treinamento de novos colaboradores;
- custo de absenteísmo: menos faltas e afastamentos significam menor impacto nas operações e menor gasto com substituições temporárias;
- custo por hora trabalhada: equipes mais engajadas e focadas aumentam a produtividade e otimizam o uso das horas contratadas;
- índice de eficiência operacional: com menos conflitos e mais engajamento, reduzem-se o retrabalho, o presenteísmo e o desperdício de recursos;
- custo de suporte: interações mais eficazes reduzem a necessidade de programas corretivos e investimentos constantes em mediação de conflitos.
Como implementar a Comunicação Não Violenta dentro e fora do RH
É preciso criar um planejamento para alinhar a comunicação estratégica e os valores culturais da empresa. Para facilitar esse processo, aqui vão algumas dicas.
Capacitação do RH e da liderança para a CNV
O RH precisa desenhar esse projeto e avaliar, primeiramente, como inseri-lo na capacitação dos gestores e funcionários. Com workshops e treinamentos, os colaboradores desenvolverão habilidades como escuta ativa, observação sem julgamento e identificação de necessidades.
Ao adotar essa nova metodologia, o RH contribui para que as lideranças tenham as habilidades necessárias para conduzir a resolução de conflitos, ter empatia com os funcionários e aplicar feedbacks construtivos.
Para medir a efetividade dos treinamentos, aplique feedbacks pós-evento e eNPS para avaliar o clima organizacional.
Integração da CNV nos processos de gestão
A CNV também pode ser aplicada nos processos de gestão e, com a padronização, fica mais fácil seguir seus direcionamentos. A dica é criar templates e frameworks baseados nos pilares da CNV para feedbacks, reuniões one-on-one (1on1) e relatórios de desempenho, o que facilita sua adoção em massa.
O RH é um importante suporte nesse contexto. O setor pode, por exemplo, criar um modelo de feedback que oriente o líder a descrever a situação de forma objetiva, identificar os sentimentos envolvidos, reconhecer as necessidades não atendidas e sugerir um pedido claro.
Da mesma forma, também pode elaborar uma checklist para reuniões periódicas, com a definição de momentos específicos para ouvir cada membro da equipe e validar suas preocupações.
Um gestor poderia dizer, sem aplicar a CNV, frases como: "Você não atingiu as metas porque é desorganizado" ou “Você não é capaz de desenvolver esse trabalho com a qualidade que precisamos”.
Além de criar um clima organizacional ruim e dificultar a relação entre líderes e liderados, esse tipo de comportamento pode resultar em queixas de assédio moral.
Com a CNV, a forma de repassar essas observações em uma sessão de feedback muda, aplicando-se mais empatia e objetividade. Sendo assim, o gestor poderia reformular:
"Notei que as últimas metas não foram alcançadas (observação). Senti preocupação (sentimento), pois acredito que a gestão do tempo pode ser um desafio, e os prazos estão apertados (necessidade). Vamos revisar juntos o seu planejamento para as próximas semanas, para garantir que entregaremos tudo a tempo? (pedido)".
Fomentando a CNV na comunicação entre colaboradores
A Comunicação Não Violenta só funciona quando sai da teoria e gestores e colaboradores a incluem em suas rotinas diárias.
Para colocar a mão na massa, é importante que essa estratégia seja reforçada em:
· espaços para discussões abertas, como rodas de conversa e palestras;
· conteúdos digitais, como vídeos e podcasts;
· momentos de feedback;
· e-mails com solicitações de demandas.
Medindo o impacto da implementação da CNV
A implementação da CNV em qualquer ambiente, especialmente o corporativo, requer um acompanhamento contínuo para que suas diretrizes funcionem.
Para avaliar seu impacto, utilize indicadores claros e objetivos. Algumas métricas sugeridas são:
· taxa de resolução de conflitos sem escalonamento: a quantidade de conflitos resolvidos diretamente entre as partes envolvidas, sem a necessidade de intervenção hierárquica, é um bom indicador do sucesso da CNV;
· tempo médio para resolver problemas interpessoais: mensurar o período necessário para solucionar desentendimentos pode revelar a agilidade e a efetividade das práticas adotadas;
· melhorias no clima organizacional: pesquisas periódicas sobre o clima no ambiente de trabalho podem identificar mudanças positivas na percepção dos colaboradores.
Esses indicadores, quando acompanhados regularmente, permitem não apenas mensurar o impacto da CNV, mas também identificar pontos de melhoria e ajustar as estratégias.
Desafios e soluções na prática da Comunicação Não Violenta
Embora a Comunicação Não Violenta ofereça diversos benefícios, sua aplicação prática pode ser desafiadora no ambiente corporativo. Entre os obstáculos mais comuns, estão os julgamentos involuntários, a resistência cultural e a dificuldade em expressar sentimentos e necessidades de maneira clara.
Para vencer esses desafios, o autoconhecimento é um elemento importante. Incentivar que todos reconheçam os próprios padrões de comunicação e busquem uma postura mais reflexiva sobre eles é essencial.
Por isso, disponibilize treinamentos para os funcionários e incentive a busca por terapia, que é uma das principais ferramentas de autoconhecimento.
Além disso, é importante promover uma cultura organizacional que valorize a prática contínua e o acompanhamento de resultados, a fim de que as mudanças se consolidem ao longo do tempo.
Desafios e soluções na prática da Comunicação Não Violenta
Para incorporar essa abordagem ao cotidiano corporativo, considere:
· praticar a escuta ativa: dedicar atenção genuína ao que o outro fala, sem interrupções ou julgamentos. Mostre interesse por meio de perguntas e reformulações, como “Se entendi corretamente, você está dizendo que...”;
· evitar acusações e críticas diretas: trocando frases acusatórias, como “Você sempre atrasa tudo”, por observações objetivas, como “Notei que o prazo da última tarefa não foi cumprido”;
· expressar seus sentimentos com clareza: em vez de mascarar ou reprimir suas emoções, utilize expressões como “Notei que não recebi retorno sobre o relatório que fiz”. Isso reduz mal-entendidos e torna a comunicação mais empática.
Ao adotar a CNV, as empresas dão um passo concreto rumo a relações de trabalho mais saudáveis e construtivas, em que feedbacks justos e focados em melhorias substituem antigas tensões.
Quando praticada de forma consistente, a Comunicação Não Violenta fortalece o senso de parceria, incentivando equipes engajadas, lideranças mais humanas e resultados que se alinham às estratégias da organização. Esse movimento melhora o bem-estar dos colaboradores e sua saúde mental, impulsionando indicadores de sucesso de maneira sustentável.
Agora, aproveite para descobrir os principais indicadores de saúde mental no trabalho e como acompanhá-los!