Contudo, expansão do endividamento deu-se num ambiente de crescimento das vendas e recuperação da rentabilidade

São Paulo, 16 de outubro de 2018 – A Indústria registrou, em 2017, aumento no seu nível de endividamento, passando de 122% do Patrimônio Líquido em 2016 para 131% do Patrimônio Líquido em 2017. Apesar deste aumento, o nível de endividamento encerrado em 2017 pelo setor industrial ficou abaixo dos índices observados em 2014 e 2015 quando o setor, em proporção ao Patrimônio Líquido, exibiu níveis de endividamento de 141% e 134%, respectivamente.

Esses são os resultados apontados pelo estudo inédito da Serasa Experian, que avaliou mais de 300 mil balanços patrimoniais de 85 mil empresas para mensurar o desempenho e a capacidade de recuperação da Indústria nos últimos quatro anos (2014 a 2017). Os números desse setor correspondem a 30% do universo empresarial considerado para este levantamento, que se destaca como um dos mais completos e abrangentes do mercado, em termos de volume da base de dados do período.

Segundo gerente de Inteligência de Crédito da Serasa Experian e autor do estudo, João Machado, a Indústria retomou em 2017 a busca por crédito mercantil e bancário para financiar o crescimento de sua atividade, fato que é corroborado pelos desempenhos positivos em 2017 tanto das vendas reais quanto da rentabilidade do setor industrial.

Evolução Real de Vendas e de Rentabilidade nas Vendas na Indústria

O levantamento conduzido pela Serasa mostrou sinais de melhora da Indústria em 2017, a qual encerrou com variação positiva na Evolução Real de Vendas (5%) e de Rentabilidade das Vendas (3%). Esse resultado foi impulsionado pelo aumento da produção industrial, que se manteve em queda durante a crise de 2015/16, mas que registrou no ano passado o melhor desempenho desde 2010, de acordo com dados do IBGE. O índice de Evolução Real de Vendas em 2017 se destacou em relação ao observado em 2014 (2%) e se contrapôs à queda maior no auge da crise, com reflexos no desempenho industrial de 2015 (-1%) e intensificada em 2016 (-7%).

Com relação à Rentabilidade das Vendas (Margem Líquida), após a estagnação no patamar de 2% entre 2015 e 2016, voltou ao mesmo patamar de 3% observado em 2014. “A melhoria destes índices no ano passado guarda relação com o efeito das expressivas perdas nas vendas e a grande estagnação que afetaram a atividade econômica do país nos dois anos anteriores. Este é o quadro que, de certa forma, continua a influenciar o atual ritmo da recuperação da atividade industrial do país, ainda abaixo da expectativa do mercado, e que tem perdurado no decorrer de 2018”, diz Machado.

Análises

Apesar da situação do endividamento médio das indústrias não ser de todo desconfortável, a situação específica das indústrias que figuraram entre as 25% mais endividadas revelou um endividamento bastante excessivo de 489% do Patrimônio Líquido em 2017. Embora tenha ocorrido uma redução, comparada aos patamares de 2015 (603%) e 2016 (528%), isso significa que o montante financiado excede 4,8 vezes o capital próprio. Esse é um dado que preocupa, ao elevar o risco da incapacidade dessas empresas de honrar seus compromissos, caso a economia não reaja e as vendas não cresçam nos próximos meses.

“O crédito é o principal combustível que impulsiona a retomada do crescimento e o indicador de endividamento da Indústria em 2017 aponta uma reação, frente aos anos de crise. No entanto, quando vemos um nível alto de comprometimento do patrimônio atrelado a uma alavancagem excessiva de financiamentos, o risco de não-pagamento se torna ainda mais preocupante, sobretudo no contexto atual do mercado, em que a lentidão da recuperação da atividade econômica prevalece face à aceleração mais do que necessária para gerar os retornos esperados”, ressalta Machado.

O estudo também se concentrou nos extremos dos efeitos da recessão e dos níveis de retomada de atividade. Para tanto, a metodologia permitiu identificar – além das médias dos indicadores – como performaram as empresas que figuraram entre as 25% que apresentaram os maiores crescimentos e as maiores rentabilidades em vendas, e como se comportaram as companhias que estão entre as 25% que registraram as maiores retrações de vendas e de lucratividade. A partir dessa análise, foi possível verificar, entre as 25% que mais cresceram, um avanço de 18% na evolução de vendas bem acima da mediana de 5% do setor, em relação ao ano anterior. Entre as que mais sofreram quedas nas vendas, o decréscimo foi de -7%, em 2017, e de -20%, em 2016.

De acordos com os dados, as indústrias automotiva e extrativa contabilizaram as maiores perdas em 2016 – período no qual se destacaram os segmentos de alimentação e papel e celulose. Já em 2017, a indústria automotiva retomou os resultados positivos, e ficou em evidência, ao lado da indústria de plásticos e borrachas.

“O estudo concentrou seu foco inicial no desempenho industrial, por se tratar de um termômetro dos investimentos na economia é o primeiro setor a agonizar diante da crise, porque a falta de confiança dos empresários retarda os investimentos planejados, e também o mais demorado a esboçar uma reação consistente, que depende de sinais claros de otimismo do mercado”, diz o gerente de Inteligência de Crédito da Serasa.

Metodologia

 

Os resultados referentes à atividade industrial, destacados neste estudo, correspondem a 30% do total de 85 mil empresas brasileiras que o levantamento considerou, nos setores da Indústria, Comércio e Serviços. A metodologia contemplou as demonstrações financeiras presentes em mais de 300 mil balanços patrimoniais dessas companhias nos últimos quatro anos, referentes ao período de dezembro de 2014 a dezembro de 2017, que integram a base de dados da Serasa Experian. A partir da análise agrupada das informações reunidas nesses documentos, foram gerados índices médios referentes à Evolução de Vendas, Rentabilidade das Vendas (Margem Líquida) e Situação de Endividamento.

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