Por Marcelo Pimenta

A preocupação com o futuro do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável da economia já se consolidou como um assunto essencial nos mais diversos setores da sociedade. Para o agronegócio, cuja atividade produtiva tem incidência direta sobre a natureza, o tema é mais do que uma preocupação. É uma diretriz presente no dia a dia de todos os agentes da cadeia de negócios, dentro e fora da porteira, da lavoura à mesa do consumidor e com participação cada vez maior de setores como o mercado financeiro, o sistema de crédito e as seguradoras.

O avanço regulatório das práticas ESG no mundo corporativo tem impulsionado a criação de novas ferramentas de crédito para estimular empresas, indústrias e investidores a se aliarem a produtores rurais na busca por soluções e projetos que preservem o meio ambiente e tenha impacto na redução e mudanças climáticas.

Em meio aos alertas sobre mudanças climáticas que têm mobilizado governos e sociedade nos países europeus, a União Europeia anunciou, recentemente, o lançamento de títulos financeiros verdes emitidos pelo bloco como forma de captar recursos para projetos de sustentabilidade na esteira da retomada de negócios pós-covid-19. Já no Brasil, estima-se que a demanda por créditos de carbono alcance até U$ 2bilhões, de acordo com estimativas do serviço de pesquisas BloombergNEF.

Títulos Verdes e Mercado de Crédito de Carbono

Instrumentos como os Títulos Verdes e a CPR Verde  e novas regulamentações como o Bureau Verde do Banco Central têm contribuído para perspectivas animadoras para quem aposta em negócios cada vez mais sustentáveis. Durante a COP 27 (Conferência da ONU sobre o clima), realizada ao final de 2022, a consultoria estratégica especializada em mudanças climáticas, WayCarbon divulgou estudo que indica o Brasil como mercado com potencial para gerar 100 bilhões de dólares em crédito de carbono até 2030.

Também em 2022, a regulamentação do mercado de crédito de carbono no Brasil deu passos importantes para a sua regulamentação, com o decreto nº11.075 publicado pelo Congresso Nacional. Além de preparar o terreno para a criação de sistemas e regras que acompanhem o entendimento jurídico e de compliance para a criação de planos setoriais de mitigação das mudanças climáticas, instituiu o Sistema de Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa, por meio do qual os créditos de carbono poderão ser registrados, certificados e também negociados.

Crédito sustentável no agronegócio: oportunidades

Ao pensarmos nesse campo fértil de oportunidades, vemos que o agronegócio pode abrir novos caminhos e gerar oportunidades sustentáveis para ampliar a cobertura de crédito no agronegócio. Vejamos alguns exemplos:

  • Incentivos fiscais: Governos podem oferecer incentivos fiscais para produtores rurais que adotem práticas sustentáveis, como o uso de tecnologias limpas, gestão eficiente de resíduos e redução de emissões de gases de efeito estufa. Isso pode ajudar a tornar as práticas sustentáveis mais acessíveis e atraentes para os agricultores.
  • Certificação sustentável: A certificação de produtos agrícolas sustentáveis, como o selo "Certificado de Produto Orgânico", pode ajudar os produtores a acessar novos mercados e a aumentar a demanda por seus produtos. Isso pode aumentar a rentabilidade do negócio e melhorar o acesso ao crédito.
  • Fundos de investimento sustentável: Investidores podem criar fundos de investimento que apoiam práticas sustentáveis no agronegócio. Isso pode ajudar a aumentar o acesso ao crédito e a reduzir o custo do financiamento para os produtores.
  • Estabelecimento de métricas e indicadores: O Bureau Verde, regulamentação criada pelo Banco Central e que começou a ser implementada em 2022, pode criar métricas e indicadores para medir a sustentabilidade e a responsabilidade social das instituições financeiras. Isso pode incluir informações sobre a emissão de gases de efeito estufa, o uso de recursos naturais, as práticas de diversidade e inclusão, a transparência e a gestão de riscos ambientais e sociais.

Informação para tomar as melhores decisões

Mas uma questão para a qual, os investidores deste mercado precisam estar atentos é quanto à qualidade dos projetos aos quais as ações sustentáveis estão atreladas, monitorando resultados e investigando as organizações envolvidas para evitar riscos reputacionais.

Ainda segundo a BloombergNEF, após ter quase dobrado em 2021, a demanda global por créditos de carbono teve queda de 4% em 2022. O instituto de pesquisa aponta um amadurecimento por parte dos compradores como razão para esta redução. Os investidores começam a ficar mais atentos a respeito da eficácia real dos projetos, além dos riscos de greenwashing: quando indústrias e empresas públicas ou privadas, organizações não governamentais ou até mesmo governos propõem ações socioambientais ao mesmo tempo em que cometem infrações.

Para isso, é importante monitorar os protocolos ESG ligados aos títulos e investimentos. O mercado e as órgãos regulatórios devem pressionar cada vez mais por transparência e segurança, cobrando o status dos indicadores ambientais definidos para os ativos. Caso os parâmetros não sejam atendidos, eles podem perder a classificação.

O terreno está preparado, as sementes são boas, a previsão é de clima bom para colher novos negócios, mas as decisões tomadas antes, durante e depois da produção é que vão determinar o sucesso desta safra!

Conheça as nossas soluções que somam inteligência analítica e tecnologia para monitorar e avaliar riscos financeiros e socioambientais:

Saiba mais!
 

Confira também a versão deste artigo publicada no jornal Zero Hora!

 


Marcelo Pimenta

Quem é Marcelo Pimenta?

Quem é Marcelo Pimenta?

Quem é Marcelo Pimenta?

Marcelo Pimenta é Head de Agronegócio da Serasa Experian, onde também atuou na fundação e desenvolvimento do Datalab, um dos centros globais de inovação da companhia. Formado em Física pela USP e com MBA em Gestão Empresarial pela FGV, traz em seu repertório passagens por grandes empresas de telefonia, tecnologia bancária e dados.

Marcelo Pimenta é Head de Agronegócio da Serasa Experian, onde também atuou na fundação e desenvolvimento do Datalab, um dos centros globais de inovação da companhia. Formado em Física pela USP e com MBA em Gestão Empresarial pela FGV, traz em seu repertório passagens por grandes empresas de telefonia, tecnologia bancária e dados.