O mercado mundial de Open Banking crescerá a taxas médias anuais de dois dígitos nos próximos anos, criando um mercado bilionário para empresas de todos os portes. Entenda as oportunidades desde as fintechs até os grandes bancos.

Em 2006, numa das mais respeitadas escolas de negócio do mundo, o matemático e cientista de dados britânico Clive Humby cunhou uma expressão que definiria a era que estava começando – a da economia dos dados. Humby afirmou que “os dados são o novo petróleo” e, desde então, a analogia foi usada em diversos canais e debates globais, como no Fórum Econômico Mundial de Davos e em reportagem especial da revista The Economist, em 2017. Outros especialistas ainda acrescentaram que, assim como o petróleo cru precisa ser refinado para se tornar algo útil e realmente valioso, os dados também requerem um elaborado trabalho para adquirirem valor.

Mas, ao contrário do petróleo, cujas reservas possivelmente acabarão algum dia, o manancial de dados que movimenta essa nova economia cresce exponencialmente, à medida que cada vez mais pessoas e objetos se tornam conectados. De celulares a automóveis, passando por relógios inteligentes, geladeiras e equipamentos industriais, a chamada “internet das coisas” será uma fonte inesgotável de dados.

Um estudo da consultoria IDC, patrocinado pela empresa de softwares Seagate, estimou que a quantidade em 2025, a chamada “datasfera global” - análise de quantidade de dados criados, capturados e replicados- alcançará 175 trilhões de gigabytes.

Ao divulgar o estudo, o vice-presidente da IDC, David Reinsel, deu uma ideia do que toda essa montanha de dados representa. Se alinhássemos todos os ultrapassados discos Blu-Ray necessários para armazená-la, seria possível ir e voltar da Lua 23  . Reinsel acrescentou que, daqui quatro anos, o número de pessoas conectadas terá subido dos atuais 5 bilhões para 6 bilhões. Cada uma delas realizará pelo menos uma interação geradora de dados a cada 18 segundos.

Mais do que uma curiosidade, refinar esses dados em busca de padrões e tendências de consumo e outras informações úteis para empresas e governos é um negócio que já movimenta cifras bilionárias.

No ano passado, outro estudo do IDC, desta vez para a Comissão Europeia, avaliou que a economia dos dados movimentou 400 bilhões de euros nos 27 países-membros, mais o Reino Unido, em 2019. A cifra representou um crescimento de 7,6% sobre 2018. A previsão é de que o montante suba para 550 bilhões de euros até 2025.

Mais dados = mais insights para negócios

Assim como o petróleo, há campos específicos de dados brutos para serem explorados. A internet das coisas e as redes sociais são apenas as mais óbvias, mas tem aquelas cada vez mais cobiçadas, entre elas o setor financeiro.

Segundo os dados mais recentes do Banco Mundial, em 2017, 3,8 bilhões de pessoas com idade de 15 anos ou mais possuíam algum tipo de vínculo bancário, como cadernetas de poupança, contas-correntes e cartões de crédito. Isso representava, na época, 69% da população mundial nessa faixa etária e assinalava um salto de 18 pontos percentuais em relação a 2011, quando a fatia era de 51%.

Até o surgimento do Open Banking, as informações financeiras eram exploradas apenas pelas instituições com as quais os indivíduos se relacionavam. Tal controle era uma importante barreira de entrada nesse mercado, já que impedia que concorrentes abordassem os clientes de determinado banco com propostas mais adequadas aos seus perfis de renda e histórico de crédito, por exemplo.

Agora, essa vantagem comparativa tende a se reduzir rapidamente, já que a base fundamental do Open Banking é o compartilhamento de tais dados com instituições mediante a autorização expressa dos clientes.

Esse processo tem atraído empresas de todos os portes – desde gigantes como o Facebook, que se movimenta conhecer o comportamento financeiro de seus mais de 3 bilhões de usuários, até fintechs que buscam um nicho de atuação.

Crescimento acelerado

Para se ter uma ideia da rapidez com que o Open Banking está se desenvolvendo, a consultoria americana Allied Market Research estima que seu crescimento médio anual, entre 2018 e 2026, será de 24,4%. Com isso, o mercado global saltará de US$ 7,29 bilhões para US$ 43,15 bilhões no período. Essa expansão virá na esteira das múltiplas vantagens do Open Banking para os clientes. Uma das principais será que os consumidores não dependerão apenas dos bancos em que são correntistas para obter crédito.

Uma vez que autorizem o compartilhamento de seus dados, outras instituições – de grandes bancos a fintechs – poderão oferecer produtos mais adequados ao seu perfil. Essa concorrência tende, no médio e longo prazos, a reduzir as taxas de juros das operações, bem como as tarifas de serviços e trazer ofertas mais aderentes ao momento de cada consumidor.

Veja, a seguir, as principais oportunidades do Open Banking para empresas de todos os portes.

1. Bancos tradicionais

Para começo de conversa, é preciso lembrar que o número de brasileiros bancarizados aumentou em 9,8 milhões desde o início da pandemia de coronavírus em março de 2020, de acordo com o Banco Central.

Agora, nada menos que 175,4 milhões de pessoas mantêm conta ativa ou utilizam algum tipo de serviço financeiro. É verdade que muitos novatos foram incorporados ao sistema apenas para receber o auxílio-emergencial de R$ 600 pago pelo governo federal no ano passado. A habilidade de os bancos mantê-los em suas bases é um dos desafios de 2021.

Como fazer isso? Em um estudo que já se tornou referência no mercado, publicado no ano passado, a consultoria Accenture propõe dois modelos de negócios para os bancos tradicionais explorarem o Open Banking.

 a) Banco como Plataforma (BaaP, na sigla em inglês)

Neste modelo, um banco tradicional passa a oferecer, em seus próprios canais de relacionamento com os clientes, produtos e serviços de terceiros. Segundo a Accenture, a instituição torna-se, assim, uma “consumidora” de APIs (Interfaces de Programação de Aplicativos, na sigla em inglês).

As APIs são a base tecnológica do Open Banking, pois permitem que sistemas de diferentes players conversem com segurança e padronização. Assim, as empresas que têm acesso aos dados bancários de um cliente podem desenvolver seus próprios serviços.

b) Banco como Serviço (BaaS, na sigla em inglês)

Ao contrário do BaaP, em que um banco tradicional atrai parceiros para a sua plataforma, no BaaS, é o banco quem oferece produtos e serviços em canais de terceiros, por meio dos APIs.

A Accenture recomenda esse modelo para bancos que desejam ganhar rapidamente escala e explorar novos mercados. Para serem bem-sucedidas, as instituições precisam ser fortes em desenvolvimento de produtos e serviços e contar com processos robustos. Entre os nichos mais promissores para crescer no modelo BaaS, estão a criação de novas formas de pagamento, produtos de crédito, tesouraria e transação bancária.

1. Fintechs 

Para a maioria dos analistas, o Open Banking representa um verdadeiro oceano de oportunidades. A consultoria KPMG enxerga três segmentos com elevado potencial para serem explorados pelas fintechs:

a) Soluções de front-end

Trata-se das empresas que se concentrarão em criar experiências diferenciadas e amigáveis de navegação para que os clientes acessem todos os produtos disponibilizados por bancos e terceiros. Para a KPMG, as fintechs que se dedicarem a esse nicho serão os grandes “arquitetos” do Open Banking, criando superaplicativos ou incorporando soluções aos canais já frequentados pelos consumidores.

b) Segmentação de produtos

Outras empresas devem se concentrar no desenvolvimento de produtos e serviços cada vez mais segmentados, de modo rápido e bem desenhado para determinados públicos. As fintechs que enveredarem por aí deverão compreender profundamente os clientes e algoritmos dos provedores de front-end, a fim de que seus produtos mantenham-se em evidência nas plataformas.

c) Serviços de infraestrutura

Há, ainda, muito espaço para quem deseja auxiliar as grandes empresas a ganhar escala e eficiência na gestão de dados e produtos. Essencialmente, essas fintechs atuarão como prestadoras de serviços de infraestrutura e back-end de todo o sistema.

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