Finanças sustentáveis ganham força: de mapeamentos de crédito rural a novas regulamentações e métricas
A Febraban Tech 2025, realizada entre os dias 10 e 12 de junho na capital paulista, consolidou-se como um palco estratégico para discussões sobre a intersecção entre tecnologia, finanças e sustentabilidade. O evento deste ano revelou uma clara tendência do setor bancário e financeiro em integrar as pautas ESG (Ambiental, Social e Governança) e regulatórias às suas estratégias de crédito, com um olhar especial para o crédito verde e a conformidade socioambiental. A narrativa da edição de 2025 foi marcada por um enfoque crescente na expansão sustentável da produção no agronegócio e na preparação do Brasil para a COP 30, culminando com o debate sobre a taxonomia verde como um pilar essencial para o direcionamento de investimentos.Neste conteúdo você vai ler (Clique no conteúdo para seguir)
- A Serasa Experian e o potencial do crédito rural sustentável no Centro-Oeste
- Mapeamento detalhado revela oportunidades e baixo risco
- Goiás e Mato Grosso do Sul na vanguarda do financiamento sustentável
- COP 30 e a Liderança dos Bancos na Transição Verde
- Banco Central, parcerias estratégicas e Taxonomia Verde
A Serasa Experian e o potencial do crédito rural sustentável no Centro-Oeste
Um ponto alto do evento foi a sessão exclusiva da Serasa Experian para clientes que trouxe à tona o vasto potencial do financiamento sustentável para a produção de soja e milho na região Centro-Oeste. Dyego Santos, gerente executivo de soluções de crédito agro, e Frederico Poleto, head de ciência de dados para o agronegócio, ambos da Serasa Experian, apresentaram um mapeamento inédito que aponta para oportunidades significativas de crescimento seguro da carteira de crédito rural para bancos e instituições financeiras.Mapeamento detalhado revela oportunidades e baixo risco
Os dados do estudo são promissores, conforme revelado pela Serasa Experian:- 85% das propriedades de grãos no Centro-Oeste têm perfis financeiros ou socioambientais regulares para financiamentos em conformidade com o MCR. Isso sublinha a maturidade do setor e o alinhamento com as diretrizes de sustentabilidade.
- Apenas 15% dos imóveis de soja e milho possuem risco financeiro e socioambiental para investimentos. Essa baixa porcentagem indica um universo vasto de produtores aptos a receberem crédito.
- O estudo analisou o perfil de propriedades da principal região do país no plantio de milho e soja para mapear seu potencial financeiro e socioambiental, provendo uma visão granular para as instituições financeiras.
- As exigências do Manual de Crédito Rural (MCR) podem ampliar o crédito sustentável, funcionando como um catalisador para práticas mais responsáveis e, consequentemente, para um fluxo maior de recursos.
"As imagens de satélite e os dados geográficos usados para analisar propriedades rurais revelam a maturidade socioambiental dos plantios."
Marcelo Pimenta Head de Agronegócio da Serasa Experian
Dentro da fatia de 85% de conformidade, o estudo ainda desdobra dois cenários: 48% das propriedades possuem baixo risco de inadimplência e nenhum impedimento ou alerta socioambiental, enquanto 37% exigem uma análise mais cautelosa, dependendo do apetite de concessão do mercado credor.
Goiás e Mato Grosso do Sul na vanguarda do financiamento sustentável
Geograficamente, Goiás e Mato Grosso do Sul foram apontados como as Unidades Federativas com as melhores oportunidades para financiamentos de milho e soja, com base na avaliação de imóveis rurais do CAR (Cadastro Ambiental Rural) sob os critérios do MCR. Em um recorte municipal, Rio Verde (Goiás) e Dourados (Mato Grosso do Sul) registraram o maior número de propriedades aprovadas. A metodologia da análise envolveu a intersecção de mapas de grãos proprietários da Serasa Experian, incluindo a safra 2024/2025, com informações do Agro Score e mais de 20 bases de dados socioambientais públicas, avaliando 166.159 imóveis rurais do CAR com histórico de plantio de soja ou milho nos últimos cinco anos.COP 30 e a Liderança dos Bancos na Transição Verde
A Febraban Tech 2025 também dedicou uma trilha de conteúdo robusta aos preparativos para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá em Belém. O segundo dia do evento foi marcado por intensas discussões sobre a transição para uma economia verde, com o painel "COP 30: Os bancos na liderança da transição para finanças verdes e sustentáveis" abordando as respostas do setor a emergências e soluções inovadoras. Entre as propostas apresentadas, destacaram-se plataformas de compensação de carbono, desenvolvidas para atender tanto grandes corporações quanto o consumidor comum. Através de aplicativos, usuários podem calcular e compensar suas emissões de CO₂ por meio de créditos certificados, utilizando tecnologias disruptivas como blockchain para garantir rastreabilidade e acessibilidade.Banco Central, parcerias estratégicas e Taxonomia Verde
No terceiro dia da Febraban Tech 2025, um anúncio de grande impacto veio do Banco Central do Brasil. Viviane Torinelli, da Gerência de Sustentabilidade e Relações com Investidores Internacionais do BC, revelou que a autoridade monetária apresentará um rascunho de norma com metas quantitativas obrigatórias de responsabilidade socioambiental e climática para instituições financeiras durante a COP 30. Este documento será submetido à consulta pública e representa um marco regulatório inédito, incorporando indicadores concretos e metas climáticas obrigatórias. "Quando você coloca aspectos quantitativos para os bancos, eles passam a ter metas e indicadores que precisam sinalizar e cumprir. Isso direciona o fluxo financeiro para uma economia de baixa emissão”, explicou Torinelli, reforçando o alinhamento com o Acordo de Paris.Confira nosso E-book sobre a COP 30: 3 propostas sustentáveis para o fururo sustentável do agro
Em paralelo, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apresentou sua própria Taxonomia Verde, um instrumento precursor na classificação de crédito no Brasil com foco socioambiental e climático. Amaury Oliva, diretor de Sustentabilidade da Febraban, enfatizou o papel fundamental dos bancos no direcionamento de capital para projetos e atividades que contribuam para o desenvolvimento sustentável. A taxonomia da Febraban é um ponto de partida para que as instituições financeiras brasileiras definam suas metas e critérios em finanças sustentáveis, organizando as atividades em três modalidades principais:- Economia Verde: foca no impacto positivo das atividades para a sociedade e o meio ambiente, visando identificar e maximizar a contribuição do banco para a economia verde, por meio de linhas e produtos de crédito sustentáveis.
- Exposição às mudanças climáticas: agrupa atividades com maior exposição aos riscos físicos e de transição relacionados às mudanças climáticas, com foco prudencial para monitorar a exposição das carteiras e identificar oportunidades de negócios para mitigação ou adaptação desses riscos.
- Exposição ao risco ambiental: também com foco prudencial, visa identificar a exposição da carteira a setores cuja natureza da atividade tem maior exposição ao risco ambiental, permitindo aos bancos refletir se seus procedimentos de gestão são compatíveis com sua exposição e para quais setores podem ser criadas abordagens específicas.