Ao compartilhar seus dados financeiros, clientes buscam um relacionamento cada vez mais personalizado com os participantes do Open Banking. Veja como as instituições participantes estão respondendo a esse novo cenário no 5º texto da nossa série especial
Um dos primeiros casos bem-sucedidos do uso da ciência de dados para fins comerciais ocorreu em 2004. Pouco antes de o furacão Frances atingir a Flórida, os analistas de dados de uma grande rede de hipermercados quebravam a cabeça para determinar quais produtos (e em que quantidades) as lojas, na região que seria afetada, deveriam oferecer aos consumidores que corriam para estocar mantimentos.
A equipe apostava em pasta de amendoim, mas o resultado deixou todos espantados. Além dos itens óbvios, como água, tudo apontava para um artigo inusitado: tortinhas de morango prontas para consumo.
Essa grande rede, então, abriu um espaço extra nas prateleiras para oferecer um volume maior que o usual das tais tortinhas e... bingo! Elas sumiram em poucas horas. Afinal, como eram prontas para o consumo, caíam como uma luva para famílias que enfrentariam alguns dias de falta de energia, gás encanado e água – todos necessários para o preparo de outros tipos de alimentos.
A história foi lembrada pela Oracle, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, em um relatório sobre o Open Banking publicado em meados do ano passado. Seu objetivo era ilustrar o potencial de geração de negócios a partir da análise da montanha de dados que se tornarão acessíveis com o sistema bancário aberto. No mesmo estudo, porém, a Oracle alertava para os riscos de bancos, fintechs e outros participantes do Open Banking perderem o foco do que realmente importa: as demandas e expectativas dos clientes.
Felizmente, à medida que o Open Banking avança no mundo todo, inúmeras pesquisas mapeiam o que pessoas e empresas esperam do novo modelo.
Veja, a seguir, alguns dos insights mais úteis para explorar todo o potencial do Open Banking.
1. Millennials e geração Z estão abertos às big techs
A pesquisa da Oracle foca, sobretudo, em clientes de bancos com idade entre 18 e 42, que compõem a geração Z e os millennials. Foram ouvidas 2.845 pessoas nos dez principais centros financeiros do mundo (o Brasil participa com 11% da amostra). Embora 64% dos entrevistados estejam satisfeitos com seu atual banco, 56% estariam dispostos a adotar soluções bancárias oferecidas por gigantes da tecnologia, como o Google e a Apple.
Um exemplo do potencial de negócios à espera das big techs são os números promissores da entrada das carteiras digitais na rotina das pessoas, tanto Apple Pay como Google Pay. Até 2020, 2,4 bilhões de carteiras digitais já estavam em uso. E mais: até 2025, esse número deve dobrar. Os dados, que foram retirados de uma pesquisa feita pela empresa Boku, fintech de pagamentos, e pela consultoria de mercado Juniper Research, comprovam que esse tipo de tecnologia veio mesmo para ficar.
2. Em busca de melhores experiências de uso
Isso não quer dizer que o Open Banking seja um jogo apenas para gigantes de tecnologia e do mundo financeiro. A mesma pesquisa da Oracle mostra que fintechs e pequenas empresas podem crescer, ao oferecer melhores experiências de uso de carteiras digitais.
Segundo a Oracle, os clientes dão uma nota de 4,1, numa escala de 0 a 5, para sua satisfação com os meios tradicionais de pagamento, como cartões de crédito e débito, enquanto os meios alternativos recebem uma nota menor (3,93). Apesar de menos satisfeitos com essas opções, 20% dos entrevistados estão dispostos a experimentar um jeito diferente de pagar suas contas.
Na pandemia, por exemplo, segundo pesquisa realizada pela Serasa Experian em parceria com a Opinion Box, 79% dos brasileiros usaram alguma fonte de crédito para solucionar problemas financeiros, sendo o cartão de crédito a principal solução buscada. A mesma pesquisa também concluiu que 37% dos brasileiros tiveram o acesso ao crédito recusado em algum momento e, após negativa, a grande maioria buscou a solução em bancos digitais. A questão principal, mais uma vez, é a busca por serviços que resolvam problemas, não importando se os provedores são gigantes ou menores.
3. Máxima personalização de produtos e serviços
Ao permitir que o cliente compartilhe seus dados bancários entre instituições participantes, o Open Banking pretende estimular o desenvolvimento de produtos e serviços mais adequados ao perfil e às necessidades de cada um. A contrapartida também é verdadeira: os clientes esperam o máximo de personalização no relacionamento com os participantes do sistema bancário aberto.
Um exemplo criativo vem da fintech mexicana Heru, que desenvolveu um superaplicativo para trabalhadores informais, como motoristas de Uber e entregadores do Rappi. Além de centralizar toda a sua vida financeira em um único app, o usuário pode contratar seguros e obter crédito.
Para quem é correntista de algum banco, a Heru utiliza os dados compartilhados pelo Open Banking para traçar o perfil de risco e oferecer produtos mais adequados. Para quem não é bancarizado, o aplicativo recorre ao histórico do cliente no Uber, no Rappi e em outros serviços semelhantes para calcular sua renda média e estabelecer limites de crédito e taxas.
4. Mentoria e orientação financeira customizadas
Cada vez mais, as pessoas buscam assessoria financeira altamente personalizada, segundo a Oracle. Essa demanda é maior entre os mais jovens, mas está presente em todas as faixas etárias.
Um exemplo de como o Open Banking pode gerar bons negócios nessa área é o Bippit Financial Planning, um aplicativo lançado em 2018 no Reino Unido. Além de funções básicas, como agregar toda a vida financeira em um único lugar, o grande diferencial desse app é oferecer assessoria financeira online e instantânea.
Ao instalar o programa no celular e compartilhar suas informações, o usuário passa a ter um acompanhamento constante e individualizado de especialistas em finanças, que farão um diagnóstico aprofundado da sua situação, propondo passos concretos para equacionar dívidas e alocar investimentos, de acordo com o perfil e as metas definidas pelo cliente.
5. Facilidade na gestão de caixa
Tão importante quanto o mercado de pessoas físicas é a demanda de empresas de todos os portes por soluções que facilitem seu dia a dia. Segundo uma pesquisa da Accenture com 660 empresas e 110 bancos de 11 países, publicada em 2018, 68% das companhias desejam que seu banco ofereça soluções, a partir do Open Banking.
Mas há distinções importantes, de acordo com o porte da empresa. Para as grandes, a esperança é que o compartilhamento de dados do Open Banking possibilite que as instituições desenvolvam melhorias na gestão financeira (24% das respostas), nos processos de pagamento (22%) e na gestão de tesouraria (18%). Já os pequenos e médios negócios esperam melhores processos de pagamento (24%), gestão de caixa (21%) e gestão financeira (18%).
Além disso, a pandemia da Covid-19 amplificou a busca de boas soluções por parte das PMEs. Uma pesquisa de dezembro de 2020, realizada pela OBIE, a agência que coordena a implantação do Open Banking no Reino Unido, mostra que 17% das PMEs que já compartilham dados pelo Open Banking trocaram de banco nos últimos 12 meses, e outros 31% cogitam uma troca, motivados por produtos e serviços mais adequados, como crédito para capital de giro e investimentos.
Para se ter uma ideia do impacto, a OBIE lembra que, em 2016, quando os estudos para implantar o Open Banking apenas engatinhavam, um estudo da associação local de bancos constatou que apenas 6% das PMEs haviam trocado de instituição nos 12 meses anteriores.
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