Começar um novo negócio ou abrir uma empresa envolve riscos, expectativas e responsabilidades. Nisso, entram na conta a relação de confiança e o compromisso entre as pessoas sócias — algo que pesa ainda mais particularmente quando todos convivem. No Brasil, a presença de empresas familiares é grande: estimativas divulgadas por dados do IBGE mostram que cerca de 90% das empresas têm perfil familiar e grande impacto em emprego e renda.
Embora, a partir de 2011, a legislação tenha permitido que uma única pessoa constitua uma empresa com responsabilidade limitada (Lei 12.441/11), e a partir de 2019 tenha aumentado a liberdade para modelos menores (Lei 13.874/19), dividir a jornada com uma pessoa sócia traz mais resultados: soma de capital, divisão de atribuições e suporte emocional.
Se você quer que sua empresa familiar floresça, trate de temas sensíveis desde cedo: quem decide, quem trabalha, como se remunera, quando e como ocorrerá a sucessão. Neste post, você vai entender o que é uma empresa familiar, qual é o melhor tipo e como fazer a sociedade funcionar para o negócio dar certo. Continue a leitura!
Neste conteúdo você vai ler (Clique no conteúdo para seguir)
- O que é uma empresa familiar?
- Qual o melhor tipo de empresa para um negócio de família?
- 1. Empresa familiar tradicional
- 2. Empresa de trabalho familiar
- 3. Empresa de administração familiar
- 4. Empresa familiar híbrida
- 5. Empresa de investimento
- Como deve funcionar uma empresa familiar?
- Quais as vantagens de uma empresa familiar?
- Desafios da gestão e conflitos em uma empresa familiar
- Exemplos de empresas familiares bem-sucedidas
- Três cuidados importantes na empresa familiar
- 1. Registrar cargos e atribuições
- 2. Planejar a sucessão
- 3. Cuidado com "ascensão meteórica"
O que é uma empresa familiar?
Não existe definição legal única. Em termos práticos, são empresas em que a gestão, a propriedade ou o capital ficam na posse de pessoas da mesma família — e essa influência aparece na cultura organizacional, nas decisões e na forma de crescer, mesmo quando há profissionais de fora na diretoria. Ou seja, trata-se de uma empresa como qualquer outra, só que com um núcleo familiar que orienta a estratégia e, muitas vezes, ocupa o controle societário.
Essa característica não exige que todas as pessoas gestoras sejam parentes, nem que todo o quadro de pessoas funcionárias tenha laços familiares. O ponto principal é a presença efetiva da família em propriedade, gestão ou ambos.
Inclusive, é comum que a empresa contrate pessoas externas para cargos técnicos e de liderança para manter a família em posições de direção, conselho ou decisão final. Ao planejar sucessão, a documentação de regras e a separação entre "família, propriedade e gestão" reduzem conflitos e protegem o legado.
Qual o melhor tipo de empresa para um negócio de família?
A escolha do "tipo" aqui diz respeito ao grau de controle da família e ao nível de abertura para profissionais externos. A seguir, trouxemos um panorama fiel às classificações mais usadas no Brasil. Confira:
1. Empresa familiar tradicional
O capital é fechado e o controle administrativo e financeiro fica exclusivamente com familiares. A proximidade acelera decisões e mantém o DNA do negócio vivo, porém tende a reduzir transparência e limitar o acesso a talentos e capital externos.
Para funcionar bem, exige disciplina extra: orçamento formal, políticas de remuneração (pró-labore, distribuição de lucros), critérios de promoção e uma rotina de prestação de contas que não dependa de conversas informais no domingo. Quando esses mecanismos existem, as vantagens do comando centralizado se materializam sem “efeito surpresa” nas finanças.
2. Empresa de trabalho familiar
Pessoas da família ocupam os principais cargos executivos, como CEO, por exemplo, com incentivo explícito para que filhas, filhos e parentes próximos trabalhem na operação: isso reforça valores e facilita a transmissão de conhecimento tácito.
O risco aparece quando afinidade substitui preparo. O antídoto está em trilhas de desenvolvimento, metas objetivas e avaliações periódicas iguais para "gente de casa" e pessoas externas. Profissionalização não elimina o caráter familiar — ela o protege.
3. Empresa de administração familiar
Parecida com a anterior, mas com um filtro vital: quem ocupa funções de gestão precisa estar qualificado. A família preserva o controle e define rumos, enquanto as cadeiras executivas pedem formação e experiência compatíveis.
Essa escolha reduz atritos entre parentes, eleva a qualidade das decisões e prepara terreno para sucessão mais previsível, já que a régua de competência está escrita e vale para todas as pessoas candidatas — inclusive as da própria família.
4. Empresa familiar híbrida
Há mais abertura. O controle permanece com a família, o capital pode ser aberto e a gestão conta com profissionais de mercado em posições-chave. Aliás, a transparência aumenta, assim como o acesso a financiamento e boas práticas de governança. Nesse esquema, conselhos (consultivo ou de administração) e comitês temáticos ajudam a equilibrar o entendimento de longo prazo da família e a execução qualificada do time profissional.
5. Empresa de investimento
A família mantém o controle estratégico, mas parte relevante das ações e da administração está em posse de terceiros. Comumente, a empresa adota padrões altos de transparência e mecanismos sofisticados de governança. Funciona bem quando as pessoas acionistas definem claramente direitos políticos, política de dividendos e critérios de indicação para conselhos: isso organiza a sucessão entre gerações investidoras.
Como deve funcionar uma empresa familiar?
Pessoas certas, nos lugares certos. Cargo de gestão pede preparo técnico, capacidade de decisão e prestação de contas; parentesco, por si, não substitui nenhum desses requisitos. Estruture um organograma, descreva funções, defina metas e deixe claro o que se espera de cada pessoa (familiar ou não). Quando alguém ocupa um posto sem qualificação, todo o planejamento fica desestabilizado.
Aliás, também é importante o acordo de sócios, política de remuneração (pró-labore x distribuição de lucros), regras de entrada e saída de familiares na operação e um plano de sucessão com prazos, critérios e preparação das pessoas futuras líderes.
Documente decisões e mantenha rituais de governança — reuniões periódicas, atas, indicadores, orçamento anual — para que a casa não dependa de lembrança ou de humor. Se fizer sentido, crie um conselho consultivo com pelo menos uma pessoa independente.
E, por fim, separe contas pessoais das contas da empresa; estabeleça limites para adiantamentos; cuide do fluxo de caixa; e trate investimento e distribuição de lucros com previsibilidade. Empresas familiares com boa disciplina financeira atravessam crises com menos sobressaltos e conversas difíceis.
Quais as vantagens de uma empresa familiar?
Quando a família compartilha o mesmo propósito, o negócio ganha tração. Entre os pontos mais fortes estão: interesses comuns; confiança alta; autoridade reconhecida; comunicação direta; processos flexíveis; perspectiva de longo prazo; preservação de cultura e valores; dedicação acima da média.
A linha entre emoção e razão é fina, então, a centralização costuma aparecer e há risco de sobreposição de papéis. A sucessão pede por preparo — com critérios objetivos, decisões registradas e abertura para profissionais de fora quando necessário.
Desafios da gestão e conflitos em uma empresa familiar
Na empresa familiar, liderança e regras bem estabelecidas evitam que emoções ditem a pauta: metas públicas, papéis definidos, pró-labore separado de lucros e decisões amparadas por dados. Para atravessar ciclos e preparar a sucessão, documente acordos, use tecnologia para o planejamento financeiro e comunicação e trate desempenho com o mesmo critério para parentes e não parentes. Confira mais detalhes a seguir:
· Reunir pessoas da família em um CNPJ exige mais do que boa vontade. A direção do negócio precisa avaliar o repertório técnico e comportamental de cada pessoa para que a gestão seja organizada e guiada por uma estratégia clara — com dados, metas e prazos;
· Normas sobre como as pessoas da família se comportam na empresa, como se resolvem conflitos e quais limites não se atravessam evitam atalhos e conversas paralelas;
· Missão, visão e valores deixam de ser quadro na parede quando orientam as decisões do dia a dia, inclusive investimentos em inovação e tecnologia. ERPs, CRMs, ferramentas de BI e dashboards de fluxo de caixa dão transparência e tiram a decisão do achismo, o que é vital quando família e negócio se misturam;
· O lucro não vira "renda dos sócios"; vira caixa, reserva e investimento — inclusive em digitalização, automação de rotinas financeiras e análise de dados. Isso reduz atritos, evita confusão de contas e fortalece o negócio para o próximo ciclo;
· Depois de definir salários e pró-labores, entra o orçamento: fluxo de caixa projetado, limite para retiradas, política de dividendos, trilha de investimento e relatórios periódicos;
· Cada pessoa precisa saber o escopo do seu cargo e a régua com que será avaliada. Ficha de função, metas e rituais de 1:1 cortam atalhos hierárquicos baseados em parentesco.
Exemplos de empresas familiares bem-sucedidas
O índice global da EY e da Universidade de St. Gallen lista as 500 maiores empresas familiares por receita. O topo da edição de 2023 traz nomes conhecidos: Walmart (família Walton) em primeiro lugar, seguido pela Berkshire Hathaway (família Buffett) e pela Cargill (famílias Cargill–MacMillan). O estudo mostra a força desse modelo: juntas, essas companhias somam trilhões em faturamento e milhões de pessoas trabalhadoras no mundo!
A JBS está entre as 20 primeiras posições (17ª) das famílias empresárias brasileiras que ocupam espaço em setores estratégicos. O ranking também destaca companhias com controle de famílias brasileiras em posições importantes — caso da AB InBev, ligada ao grupo de investidores de Lemann, Telles e Sicupira.
Quando o assunto é sucessão e tecnologia, a trajetória do Magazine Luiza ilustra bem a transição de gerações com foco no digital. Com a terceira geração no comando executivo, a empresa acelerou e-commerce, integração entre lojas físicas e canais online e criação de laboratórios de inovação — prova de que cultura familiar e mentalidade de tecnologia convivem quando a governança está madura.
Três cuidados importantes na empresa familiar
A busca por parentes como sócios acontece de forma natural em muitas trajetórias. A FBN Brasil, rede internacional que reúne famílias empresárias, trata disso: sem estrutura mínima de governança, parte desses negócios não atravessa a sucessão para a geração seguinte. Confira:
1. Registrar cargos e atribuições
Quando o negócio cresce e novas gerações se somam, aumentam herdeiros, expectativas e, às vezes, a tensão. Disputas por cadeiras e cotas surgem quando o papel de cada pessoa não está documentado.
Para reduzir atrito, formalize organograma, descrição de funções, critérios de entrada de familiares na operação e um acordo societário que detalhe direitos políticos, política de dividendos e instâncias de decisão. A tecnologia no trabalho ajuda: um data room com atas, contratos e políticas atualizadas dá previsibilidade e histórico.
Além disso, criar um conselho consultivo com, pelo menos, uma pessoa independente dá lastro técnico às escolhas e evita que hierarquias familiares se sobreponham à hierarquia profissional. Plataformas de gestão de projetos e de RH completam a organização ao registrar metas, avaliações e trilhas de desenvolvimento de cada pessoa.
2. Planejar a sucessão
Você sabia que 55% das empresas familiares não planejam a sucessão e muitas lideranças sequer desenham um projeto de vida após a saída, o que posterga decisões e trava a nova geração? Para definir critérios de escolha, prepare futuras lideranças com experiências dentro e fora da empresa e comunique prazos e fases do processo.
Ferramentas digitais, como plataformas de aprendizagem, avaliações periódicas com KPIs e acompanhamento por conselho ajudam a separar afetos de desempenho.
3. Cuidado com "ascensão meteórica"
Promover pessoas da família sem critérios claros gera ruído interno e perda de credibilidade. Transparência na escolha de futuras lideranças, comunicação antecipada com todo o time e avaliação de desempenho igual para quem é parente e para quem não é reduzem a percepção de favoritismo.
Divulgue os critérios, exponha a régua de competências e mantenha o cronograma visível em um repositório acessível a quem precisa acompanhar.
Para que isso funcione, documente etapas da transição: período de sombra, metas do período de teste, papéis do fundador no pós-transição e instâncias de feedback. Com isso, a empresa familiar preserva a cultura e acelera a adoção de tecnologia e inovação — que, no fim do dia, é o que mantém a companhia relevante para os próximos ciclos.
Continue explorando nosso blog para descobrir outros conteúdos imperdíveis sobre o assunto, como 12 dicas para administrar uma empresa familiar de sucesso. Não deixe de conferir e até a próxima!