Cinco tópicos de atenção para o enfrentamento das mudanças climáticas

A 27ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP27), realizada no final de 2022 no Egito, reuniu líderes de todo o mundo para discutir estratégias de enfrentamento das mudanças climáticas. As evidências científicas têm convergido para a constatação de que é realmente preciso neutralizar a emissão de carbono até 2050 a fim de evitar o aumento de 1,5 grau na temperatura da Terra.

Em artigo publicado anteriormente, abordamos as expectativas que a opinião pública tinha para a COP27. Agora, após a conferência, tratamos sobre como tomar medidas eficientes que possam respeitar a necessidade de produzir alimentos e bens e gerar desenvolvimento para a humanidade de forma sustentável. E mais: como gerar mudanças reais em nossos hábitos de consumo e estilo de vida de modo a garantir a eficácia dessas medidas?

Metas brasileiras: correndo contra o relógio

O primeiro prazo para o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil ao longo das últimas conferências sobre o clima está quase em cima da hora: 2025. Até lá, o país deve reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 37% em relação às emissões de 2005. Em 2030, a meta é reduzi-las em 50%, também em comparação com 2005.

Ao assinar o Acordo de Paris, em 2015, o país estava emitindo 1,4 bilhão de toneladas líquidas de CO2 por ano. A medida do CO2 equivalente representa a soma do efeito superaquecedor de todos os tipos de gases do efeito estufa na atmosfera. Em 2005, liberávamos 2,4 bilhões de toneladas de poluentes anualmente.

De acordo com relatório publicado em 2021 pelas Nações Unidas, o planeta está a caminho de uma elevação de temperatura de até 2,8°C. Um aumento de 2°C teria como consequência global até 14 vezes mais ondas de calor e 70% mais secas, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).

Após a COP27, em entrevista ao jornal O Globo, o CEO do Pacto Global da ONU Brasil, Carlo Pereira, falou sobre a importância de os setores público e privado estabelecerem metas de curto, médio e longo prazo para alcançarem a descarbonização.

 “A gente precisa entender e acompanhar se estamos no caminho. Os mecanismos de monitoramento, que começaram a ser discutidos na COP26 e vão ser finalizados na COP28, são superimportantes. Como a gente vai monitorar a adaptação das empresas e a mitigação de suas emissões de gases de efeito estufa?” 

Carlo Pereira
CEO do Pacto Global da ONU Brasil

A caminho da COP 28: cinco pontos de atenção

A consultoria internacional Ernst & Young listou, em relatório publicado em dezembro de 2022, algumas das principais tendências às quais governos, empresas e sociedade civil deverão estar atentos e desdobrar em ações para a preparação à COP28, que está prevista para acontecer em Dubai, de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023. Vamos conferir quais são elas?

  1. A necessidade de financiamento para perdas e danos foi finalmente reconhecida pelas nações mais ricas

    As perdas e os danos causados pelos impactos de mudanças climáticas que não podem ser recuperados, como o aumento do nível do mar e o colapso de ecossistemas, têm sido objeto de pressão feita pelos países em desenvolvimento em suas relações internacionais há décadas. Eles argumentam que estão sofrendo mais com os impactos climáticos, embora tenham contribuído menos para o problema, e querem que as nações mais ricas os apoiem financeiramente em reparação.

    Os países desenvolvidos, há muito, procuram evitar negociações diretas sobre perdas e danos financeiros. Durante a COP27 o assunto foi admitido oficialmente na agenda pela primeira vez. As nações mais pobres pressionaram os líderes pela criação de um mecanismo de financiamento multilateral. E os países desenvolvidos tentaram adiar uma decisão final para 2024, ou criar novos tipos de seguro para cobri-la.

  2. A dominância dos combustíveis fósseis deve continuar

    Foram 636 lobistas da indústria de petróleo e gás registrados na COP27, número superior aos 503 da COP26, que já superam a delegação de qualquer país. Esses números mostram a crescente influência dos interesses de petróleo e gás nas negociações climáticas.

    A Agência Internacional de Energia disse que nenhum novo projeto de combustível fóssil pode prosseguir a partir de 2023 se o mundo quiser atingir as metas de redução de emissões. Embora o investimento em energia limpa represente quase todos os novos investimentos em geração de eletricidade, um relatório divulgado por ativistas na COP27 alertou que as empresas de petróleo e gás estão planejando uma expansão da produção que resultaria na liberação de 115 bilhões de toneladas de CO2, o equivalente a mais de 24 anos das emissões dos EUA.

    Algumas empresas de combustíveis fósseis e governos ocidentais têm visitado países africanos na tentativa de convencê-los a explorar as reservas remanescentes de combustíveis fósseis e exportar a energia para eles. Isso levou os governos de alguns países africanos a pressionarem por um acordo para que o petróleo e o carvão continuem a desempenhar um papel crucial no mix de energia do continente a curto e médio prazo e para que o gás fóssil apareça no longo prazo.

  3. Greenwashing não será tolerado

    Mais de 12.000 empresas já estabeleceram metas climáticas zero. No entanto, a preocupação de que tais metas tenham “níveis variados de rigor” persuadiu o secretário-geral da ONU a criar um grupo de trabalho para recomendar os critérios que as empresas precisariam atender para reivindicar credibilidade.

  4. Os sistemas alimentares e a agricultura estão sob vigilância

    Em edições anteriores da conferência, representantes do agronegócio mundial estiveram ausentes da inclusão oficial nas negociações da ONU, apesar de as cadeias alimentares globais e a produção ao consumo contribuírem com cerca de um terço das emissões de gases de efeito estufa.

    No entanto, têm havido apelos crescentes para apoiar os agricultores na adaptação das iniciativas, principalmente porque os impactos do clima extremo afetaram o abastecimento de alimentos. Este ano, a seca causou perdas de rendimento em países como EUA, Europa, China e Índia, enquanto as inundações no Paquistão fizeram com que as colheitas de arroz caíssem cerca de 31%.

    Na COP27, organizações que representam 350 milhões de pequenos agricultores em todo o mundo escreveram uma carta aberta aos líderes, convidando-os a trabalharem em conjunto para construir um sistema alimentar mais forte, sustentável e justo. Em resposta, a presidência da conferência lançou a iniciativa Food and Agriculture for Sustainable Transformation (FAST), para melhorar a quantidade e a qualidade das contribuições financeiras climáticas destinadas a transformar a agricultura até 2030, ação a ser liderada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

  5. É preciso passar da discussão para a implementação das medidas discutidas na COP

    As conversas da COP26, realizada em Glasgow, marcaram o fim das discussões sobre como a ação climática deveria ocorrer seguindo o “livro de regras” definidas pelo Acordo de Paris de 2015. Na COP27, a presidência da cúpula pretendia mudar o foco para a ação prática.

    Múltiplas iniciativas para aumentar a resiliência das populações e a infraestrutura foram lançadas na COP27, enfatizando a crescente conscientização sobre os impactos que as mudanças climáticas já estão causando nas pessoas mais pobres e a necessidade cada vez mais urgente de adaptação.

    Isso inclui pedir aos governos que incorporem a gestão da água nos esforços nacionais de adaptação ao clima e também um novo plano de ação da ONU, que visa garantir que todas as populações sejam cobertas por sistemas de alerta precoce de ocorrências climáticas nos próximos cinco anos. No entanto, até o final dessa conferência, os países desenvolvidos ainda não haviam aportado os US$ 100 bilhões por ano que haviam prometido em 2009.

Agora que você já está por dentro dos desdobramentos da COP27, que tal entender como estamos apoiando empresas que atuam no agronegócio a cumprir suas metas ESG?

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