Por Marcelo Pimenta
O agronegócio brasileiro é uma potência. Responsável por cerca de 25% do Produto Interno Bruto do país e fonte de emprego para mais de 16 milhões de pessoas, o setor vem apresentando, mesmo em um período tão desafiador para toda a economia, crescimento. Ainda assim, são várias as barreiras para potencializar o desenvolvimento do setor, especialmente para os pequenos produtores. Aproximadamente 4 milhões deles enfrentam uma verdadeira saga para obter crédito privado e incrementarem seus negócios – estima-se ainda que apenas 19% tenham tido acesso a uma linha de crédito. A burocracia, a falta de dados para comprovarem a produção e as realidades muito distintas resultam em pouco financiamento no segmento, perto de 27% da relação Crédito/PIB contra 55% de outros mercados.
Enquanto uma parcela pequena de agricultores tem maquinário moderno, aplicam conceitos da indústria 4.0 diariamente em suas terras e gozam do livre acesso às linhas especiais das instituições financeiras, os produtores menores ou familiares são desconhecidos pelo mercado de crédito. Análises custosas e falta de dados confiáveis sobre essas pessoas deixam de fora um grupo cujo faturamento anual é expressivo e que produz cerca de 70% dos alimentos consumidos por uma típica família brasileira. Então, o que é preciso para que elas possam tomar recursos, crescer e alavancar ainda mais o agronegócio?
Primeiro é preciso se aprofundar na cultura de crédito dessas pessoas: elas vivem, na maior parte das vezes, na área rural do país, com pouco acesso às novas tecnologias, e ainda transacionam muito em dinheiro vivo ou na “base da confiança” com os comércios locais ou distribuidores. Falta educação financeira e muitos ainda não entendem que essas são relações creditícias que precisam melhorar. Por outro lado, as agritechs, bancos, financeiras e outros credores desejam atingir essas pessoas, mas não dispõem de dados confiáveis para fazer as melhores ofertas e meios para acessá-las da melhor forma, uma vez que em muitos casos ainda existe uma dependência da figura do gerente local para ofertar os recursos financeiros.
Para facilitar essa dinâmica, gerar mais informações necessárias sobre quem é esse produtor, onde ele está, o que planta e quem está no seu entorno – familiares ou funcionários – é essencial. Apenas com isso as avaliações de risco poderão ser mais assertivas, facilitando a oferta de modelos de financiamento adequados aos perfis, assim como ocorre com o crédito comercial. E, ao contrário do que parece, o segmento traz mais facilidades – enquanto no crédito a pessoas físicas os perfis são variados, uma vez que as profissões mudam, as receitas são voláteis e precisamos considerar os diferentes estágios de vida desse tomador de crédito, na produção rural as pessoas geralmente fazem o mesmo trabalho há anos, conhecem a terra e sabem quando mudar de insumos para manter sua renda.
O que estamos fazendo na Serasa Experian, ao ampliarmos nossa atuação nesse segmento, é traduzir essas informações tão importantes para o agronegócio brasileiro em uma linguagem que o mercado de capitais entenda. E isso só é possível aplicando a tecnologia, combinando plataformas de dados e algoritmos, desenvolvidos com o uso da Inteligência Artificial, para acompanhar esse produtor e suas atividades, adicionando elementos, como dados climáticos e acesso a tecnologia, que afetam o plantio.
Queremos ser tão relevantes para este segmento quanto somos para os demais segmentos do mercado de crédito para os consumidores e empresas, possibilitando que essas pessoas com histórico de produção se apresentem a instituições financeiras e possam ter acesso a crédito mais barato, propiciando o seu crescimento. Quando o pequeno produtor se liberta de linhas de crédito tradicionais, ele pode melhorar sua qualidade de vida e aumentar a distribuição dos produtos, impactando positivamente a economia do país. A tecnologia pode ajudar a acabar com os problemas de confiança de ambas as partes, garantindo mais transparência, segurança nos acordos, e, consequentemente, desenvolvendo e aprimorando o setor.
* Marcelo Pimenta é diretor do DataLab e responsável pela atuação da Serasa Experian no agronegócio