Imagine contratar um profissional e, em poucos meses, perceber que suas habilidades já não atendem às necessidades do seu negócio. Ou investir em uma área que, de repente, perde a relevância por causa de uma nova tecnologia. Esses são cenários comuns para PMEs que sofrem com o desemprego estrutural — é um desafio que afeta o mercado de trabalho e a competitividade das empresas.
Diferentemente de outras crises, esse tipo de desemprego aparece quando as mudanças no mercado são tão radicais que profissões se tornam obsoletas. Para muitos PMEs que operam com recursos mínimos, isso significa lidar com dois problemas: a falta de mão de obra e a necessidade de se reinventar.
Neste post da Serasa Experian, você vai entender como o desemprego estrutural é capaz de impactar pequenas empresas, por que ele é mais crítico para quem tem menos recursos e, principalmente, como transformar essa realidade em vantagem. Confira o conteúdo completo a seguir!
O que é desemprego estrutural?
O desemprego estrutural acontece quando mudanças na economia tornam certas habilidades ou profissões menos relevantes. Diferentemente do desemprego conjuntural — que está ligado a crises temporárias —, ele é resultado de transformações duradouras, como globalização, alterações no consumo e automação. Por exemplo, a adoção de inteligência artificial (IA) em processos industriais pode reduzir a demanda por funções manuais repetitivas.
Aliás, é importante ressaltar que esse tipo de desemprego afeta trabalhadores e empresários. Na medida em que profissionais precisam se requalificar para acompanhar as novas exigências do segmento, as organizações enfrentam falta de mão de obra, principalmente qualificada. Ou seja, tudo isso reflete na falta de recursos para investir em treinamentos, o que limita a capacidade de adaptação.
Um erro comum é confundir o fenômeno com falta de vagas. Na realidade, há oportunidades, porém elas exigem competências que grande parte da população atualmente não domina. Logo, isso significa repensar processos internos até a forma de atrair talentos alinhados às necessidades atuais, especialmente para os pequenos negócios.
Como o desemprego estrutural impacta as PMEs?
Os efeitos do desemprego estrutural são mais impactantes nas PMEs, pois, com orçamentos limitados, muitas não conseguem investir em tecnologias atuais ou programas de capacitação, o que as torna menos competitivas em comparação a outras. Além disso, existe a dificuldade de encontrar profissionais qualificados para funções estratégicas, o que retarda a inovação e o crescimento.
Outro ponto a ser considerado é a rotatividade de colaboradores. Quando uma empresa não consegue oferecer oportunidades de desenvolvimento, profissionais buscam organizações que acompanhem as necessidades dos novos mercados. Ou seja, isso gera custos com novas contratações e perda de produtividade, desafios para negócios com margens apertadas.
Não menos importante, as mudanças regulatórias ou ambientais — como a transição para modelos sustentáveis — também contribuem para o desemprego estrutural. PMEs que dependem de setores tradicionais (ex.: combustíveis fósseis) podem ver suas operações ameaçadas quando há reinvenção rápida para não perder espaço é exigida.
Desemprego estrutural: exemplos
Um caso clássico é a evolução das telecomunicações. Antes, os telefonistas eram importantíssimos para transferir ligações e dar informações por telefone. Hoje, com celulares móveis e a internet, essas funções são feitas pelo próprio usuário, o que tornou a profissão quase extinta.
Outro exemplo é a automação no campo: máquinas modernas realizam trabalhos, como plantar e colher, ao substituir trabalhadores que antes faziam essas atividades manualmente. Em diversas fazendas, isso reduziu drasticamente a necessidade de mão de obra humana e eliminou postos de trabalho tradicionais.
Também vale citar o fim dos cobradores de ônibus! Com a chegada do bilhete eletrônico e do pagamento via aplicativo, as catracas são liberadas automaticamente, sem intervenção humana. Essa mudança tecnológica dispensou uma função que existia há décadas, o que mostra, novamente, como inovações podem alterar o mercado de trabalho.
Principais causas do desemprego estrutural
O desemprego estrutural é um malefício tanto para o empregador quanto para o trabalhador! Ele surge, principalmente, por 3 motivos:
- Automação e tecnologia, pois máquinas e sistemas avançados substituem funções humanas em indústrias, agricultura e serviços, o que reduz custos para empresas, porém elimina vagas;
- Modernização do cotidiano, uma vez que computadores e softwares assumem tarefas antes manuais, desde atender um cliente até processos industriais;
- A integração internacional exige que empresas se adaptem a novos padrões, muitas vezes cortando postos que não atendem às demandas atuais.
Além disso, a velocidade das inovações tecnológicas e as mudanças nas regras da economia global criam um mercado de trabalho em que profissões inteiras podem desaparecer rapidamente, o que exige constante atualização profissional.
Diferença entre desemprego conjuntural e estrutural
As consequências que serão expostas a seguir mostram como o problema de ambos vai além do mercado de trabalho: ele afeta toda a estrutura social e econômica, uma vez que o desemprego leva impactos diretos para a sociedade. Confira quais são os principais:
- Aumento das taxas de desemprego em geral;
- Mais pessoas buscando vagas que nem sempre existem;
- Dificuldade para recolocar trabalhadores demitidos em novas funções;
- Expansão do trabalho informal, subemprego e autônomos;
- Aumento da pobreza e desigualdades sociais mais acentuadas;
- Queda na qualidade de vida de quem perde o emprego;
- Crescimento dos desalentados (pessoas que desistiram de procurar emprego).
Diferença entre desemprego conjuntural e estrutural
O desemprego conjuntural e o estrutural se diferenciam pelo tempo de duração e, principalmente, pela causa. O primeiro está ligado a crises passageiras, como crises financeiras, políticas ou de saúde (como a pandemia da covid-19), que afetam múltiplas empresas e levam a demissões, fechamento de negócios ou cortes de gastos. Nesses casos, quando a situação se estabiliza, os empregos costumam ser recuperados, ou seja, é um desemprego temporário.
Já o desemprego estrutural é resultado de transformações incorruptíveis na economia, como avanços tecnológicos, automação ou globalização. Aqui, profissões inteiras podem desaparecer e os trabalhadores precisam se adaptar a novas realidades do mercado de trabalho. Diferentemente do conjuntural, esse tipo de desemprego é duradouro, já que as mudanças são permanentes e redefinem a demanda por habilidades.
Enquanto o conjuntural está associado a problemas que podem ser superados, o estrutural causa uma reorganização definitiva no segmento de atuação.
Quais são os outros tipos de desemprego que existem?
Além do desemprego estrutural e conjuntural, economistas identificam outros 3 tipos principais: natural, friccional e sazonal. Cada um reflete a situação específica do mercado de trabalho vigente. Entenda mais a seguir:
- Desemprego natural
O desemprego natural ocorre quando há equilíbrio entre o número de vagas disponíveis e a quantidade de pessoas procurando emprego. Nesse caso, o desemprego existe principalmente por motivos voluntários — como indivíduos que não querem trabalhar por escolha própria (para estudar, cuidar da família ou se aposentar, por exemplo).
É considerado um nível "normal" em economias estáveis, já que nem todos estão dispostos ou precisam estar empregados o tempo todo.
- Desemprego friccional
Esse tipo acontece durante transições no mercado de trabalho. Por exemplo: quando alguém pede demissão para buscar uma oportunidade melhor, muda de cidade ou está ingressando no mercado pela primeira vez (como jovens em busca do primeiro emprego por conta dos estudos). Apesar de temporário, é comum em economias dinâmicas, em que as pessoas têm liberdade para mudar de carreira ou empresa. Geralmente, dura até que o trabalhador encontre uma nova profissão.
- Desemprego sazonal
Está ligado a atividades que dependem de épocas específicas do ano: na agricultura, há períodos de plantio e colheita, o que deixa trabalhadores sem emprego entre as safras. Na pesca, há meses em que a captura é proibida para preservar espécies. Outro exemplo são os setores de turismo, que contratam mais em feriados ou férias. Todas essas flutuações da economia criativa criam vagas temporárias e deixam profissionais sem renda fixa em determinados meses.
Como o desemprego estrutural afeta a economia?
Em nosso país, o desemprego estrutural é um mal relativamente novo e que ganhou força nas últimas décadas. Isso aconteceu porque o Brasil demorou para se industrializar e só recentemente enfrentou mudanças tecnológicas e produtivas mais intensas e significativas.
Esse problema afeta a economia significativamente: muitos trabalhadores ficam sem emprego por longos períodos. Um exemplo claro é a substituição do cortador de cana por operadores de máquinas agrícolas ou por programadores que desenvolvem sistemas automáticos, como drones totalmente autônomos.
Outro fator que alimenta o desemprego estrutural no país é a falta de qualificação da população geral. Sem acesso à educação de qualidade, parte dos trabalhadores não consegue preencher vagas que exigem conhecimentos muito específicos. Resolver essa situação não é fácil, pois formar e capacitar pessoas leva tempo. Enquanto isso, empresas buscam reduzir custos — e, muitas vezes, cortar postos de trabalho acaba sendo a saída mais prática.
Taxa de desemprego no Brasil atualmente
A taxa de desemprego no país atingiu 6,8% no período entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. O número representa um aumento em comparação com o trimestre anterior (setembro a novembro de 2024), quando o índice estava em 6,1%.
Esse crescimento pode estar relacionado a variações sazonais ou ajustes no mercado após períodos de maior contratação temporária. Embora o valor ainda seja considerado moderado, a tendência exige atenção para evitar impactos prolongados na população que está economicamente ativa.
Desemprego estrutural no Brasil
O desemprego estrutural no Brasil aumentou de forma expressiva nos últimos 30 anos, especialmente a partir dos anos 1990, segundo o Brasil Escola. A princípio, o avanço da automação industrial foi o principal motivador. Com o tempo, o problema se intensificou pela dificuldade de muitos profissionais em se recolocar no mercado formal após perderem seus empregos.
Entre as diversas causas, a falta de qualificação da mão de obra é a mais relevante, como já supracitado anteriormente. Dados de uma reportagem da BBC News (2021) apontam que, atualmente, o Brasil tem taxas de desemprego estrutural maiores que as de nações com economias mais consolidadas.
Por consequência disso, mais pessoas passaram a depender de ocupações informais, subempregos ou autônomas para sobreviver. Esse movimento fez crescer o número de trabalhadores sem vínculo formal, o que marca uma mudança no perfil do empreendedorismo brasileiro.
Desemprego estrutural: como resolver?
O desemprego estrutural é um desafio, porém não impossível de solucionar. Para reduzir os efeitos, é necessário combinar ações coordenadas entre governos, empresas e sociedade. Embora não exista uma solução única, especialistas apontam caminhos viáveis que exigem planejamento e compromisso, como:
- Reformas estruturais em impostos, leis trabalhistas e na organização do Estado;
- Investir em educação de qualidade em todas as etapas (do ensino básico ao superior);
- Criar uma política industrial que gere empregos com melhores condições.
Superar o desemprego estrutural é um desafio que exige tempo e dedicação, sendo necessário investir na formação profissional para que os trabalhadores possam atender às demandas do mercado de trabalho. Em 2023, o Fórum Econômico apontou as principais profissões que devem se destacar no futuro:
- Especialistas em inteligência artificial (IA);
- Profissionais especializados em sustentabilidade;
- Analistas de business intelligence;
- Especialistas em segurança da informação;
- Engenheiros especializados em fintechs;
- Cientistas e analistas de dados;
- Engenheiros focados em robótica;
- Especialistas em big data;
- Operadores de máquinas agrícolas;
- Especialistas em processos de transformação digital.
O desemprego estrutural afeta muitas pessoas que, apesar de dedicadas, não encontram oportunidades por causa das mudanças no mercado de trabalho. Para mudar isso, é necessário olhar para cada história e investir na capacitação real, que ajude a criar novas possibilidades de trabalho. A solução está em entender as pessoas e suas necessidades, e não apenas as vagas de emprego.
Agora que você já sabe tudo sobre o assunto, que tal conferir outros posts da Serasa Experian, a primeira e maior Datatech do país, como o que diz a lei sobre desemprego? Até lá!