A forma como as empresas movimentam dinheiro mudou nos últimos anos. Se antes era comum agendar pagamentos com um ou dois dias de antecedência, hoje a expectativa é de que tudo aconteça em tempo real, com segurança e o menor custo possível. Nesse cenário, modelos tradicionais como o DOC e a TED vêm sendo questionados e, no caso do DOC, até descontinuados, abrindo espaço para soluções mais rápidas, como o Pix.
Mesmo com a ascensão dos meios instantâneos, entender como funcionam os métodos de transferência bancária mais antigos ainda é importante. Muitas empresas continuam utilizando a TED em operações específicas, e o fim do DOC levanta dúvidas sobre alternativas seguras e compatíveis com as exigências do dia a dia corporativo.
Neste artigo, você vai entender as principais diferenças entre DOC e TED, como cada um funciona, por que o DOC está sendo extinto e em quais situações a TED ainda é utilizada. Vamos abordar os impactos para micro e pequenas empresas, os custos envolvidos, os dados exigidos em cada operação e o que esperar do futuro das transferências bancárias no Brasil. Boa leitura!
O que é DOC?
O Documento de Ordem de Crédito, conhecido pela sigla DOC, é um modelo de transferência bancária entre contas de diferentes instituições financeiras, utilizado como forma de pagamento. Criado em 1985, o DOC foi regulamentado inicialmente pela Circular nº 703 do Banco Central, com o propósito de formalizar a movimentação de valores de maneira eletrônica e segura no ambiente bancário da época.
Uma das características marcantes do DOC é o prazo para que os valores sejam efetivados: ao contrário de métodos mais modernos, o crédito ocorre apenas no dia útil seguinte à operação, conhecido como D+1. Isso significa que, se a transação for feita em uma sexta-feira, por exemplo, o valor só estará disponível na segunda-feira (ou no próximo dia útil).
Por esse motivo, o DOC não pode ser utilizado aos finais de semana ou em feriados nacionais, o que limita sua agilidade nas rotinas empresariais. O valor máximo permitido por transação via DOC é de R$ 4.999,99, o que pode não atender às necessidades de empresas que lidam com quantias maiores.
Outro ponto de atenção é a necessidade de preencher corretamente o nome completo e o CPF ou CNPJ do destinatário. Qualquer erro nesses dados pode impedir que o valor seja enviado, acarretando atrasos em pagamentos e possíveis retrabalhos.
Embora tenha sido bastante comum por décadas, o DOC entrou em desuso com o surgimento de alternativas mais rápidas e eficazes, como a TED e, mais recentemente, o Pix. Devido à queda na demanda, diversos bancos anunciaram, em 2023, o início da suspensão gradual desse serviço. Isso reflete uma mudança no comportamento dos usuários e nas demandas do sistema financeiro, que cada vez mais se adapta a operações instantâneas.
O que é TED?
A Transferência Eletrônica Disponível (TED) surgiu em 2002 como uma alternativa mais rápida ao DOC, integrando um conjunto de inovações no sistema financeiro nacional. Seu principal diferencial é a possibilidade de o valor transferido ser creditado no mesmo dia da operação, desde que a transação seja feita dentro do horário definido pelo banco emissor, normalmente entre 6h e 17h.
O funcionamento da TED é regulamentado pela Resolução CMN nº 3.694, de 26 de março de 2009, que estabelece normas para a liquidação de operações interbancárias. Essa resolução é parte do arcabouço normativo que garante o correto funcionamento das transferências entre diferentes instituições financeiras, o que inclui a compensação, liquidação e os mecanismos de controle.
Ao contrário do DOC, a TED não tem valor mínimo ou máximo, tornando essa modalidade adequada para empresas que realizam pagamentos de diferentes quantias, desde valores pequenos, como pagamento de fornecedores locais, até movimentações mais expressivas, como a quitação de contratos ou repasses entre contas jurídicas.
Outro aspecto que favoreceu a ampla adoção da TED é a velocidade na compensação dos valores. O recurso é creditado em poucos minutos na conta de destino, o que facilita o controle financeiro de quem precisa que o pagamento seja confirmado com agilidade. Além disso, a TED permite transferências entre contas de titulares diferentes e bancos distintos, o que amplia as possibilidades de uso nas relações comerciais.
Mesmo com a chegada do Pix, a TED ainda é utilizada em situações que envolvem maiores exigências formais ou limitações operacionais específicas. Em alguns casos, o valor da transação pode ultrapassar o teto de uma transferência via Pix, ou o cliente pode optar pela TED em função de questões internas de contabilidade, como o agendamento prévio ou emissão de comprovantes mais detalhados.
Diferenças entre DOC e TED
Característica | DOC | TED |
Data de crédito | Dia útil seguinte (D+1) | Mesmo dia (D+0) |
Valor máximo | R$ 4.999,99 | Sem limite |
Horário limite | Varia conforme o banco | Geralmente até 17h |
Disponível em fins de semana | Não | Não |
Possibilidade de erro | Mais suscetível a falhas | Menos comum |
Por que o DOC está sendo extinto?
Desde o lançamento do Pix, em novembro de 2020, o sistema bancário brasileiro passou por mudanças profundas no modo como pessoas e empresas realizam transferências. O novo modelo, criado e operado pelo Banco Central, permite a movimentação de valores em tempo real, durante todos os dias da semana, inclusive feriados, com liquidação em poucos segundos.
Diante dessa agilidade, o DOC, que leva até um dia útil para processar a transação, passou a ser visto como pouco eficiente para a maioria dos usuários. Os números confirmam essa mudança de comportamento. Em 2023, o Banco Central apontou uma forte redução no uso do DOC.
A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) divulgou que a modalidade já representava menos de 1% das transferências bancárias realizadas no país. Esse cenário levou os bancos a reavaliarem a viabilidade de continuar oferecendo esse tipo de operação, diante do alto custo de manutenção e da baixa demanda por parte dos clientes.
Diante desse contexto, instituições como Itaú, Santander, Bradesco e Banco do Brasil comunicaram o encerramento da oferta de DOCs a partir de 15 de janeiro de 2024. A decisão acompanha uma tendência de modernização do sistema financeiro, que prioriza métodos mais rápidos, flexíveis e integrados às novas tecnologias.
Quais operações ainda exigem TED?
Mesmo com a popularidade do Pix, a TED segue em uso para situações específicas. Empresas ainda utilizam a TED quando a operação exige mais formalidade, como pagamentos com cláusulas contratuais. Também é comum em transferências de alto valor, em que o Pix pode ter limites por transação.
Operações jurídicas e tributárias também costumam exigir TED por questões de rastreabilidade. Algumas instituições ou sistemas governamentais ainda solicitam esse tipo de transação. Em certos contextos, a TED pode ser necessária para cumprir exigências de registro bancário.
Empresas com processos internos mais tradicionais também mantêm o uso da TED. Sistemas financeiros e ERPs que ainda não estão integrados ao Pix favorecem esse tipo de transferência. Para negócios com controle mais rígido, a TED oferece um nível maior de padronização e registro formal.
Impactos para micro e pequenas empresas
Para microempreendedores e empresas de pequeno porte, o fim do DOC representa a saída de uma opção tradicional, mas que já vinha sendo pouco utilizada. Ainda que a redução das alternativas disponíveis possa gerar dúvidas em um primeiro momento, o mercado oferece recursos mais práticos, com funcionamento contínuo e custos menores, o que tende a beneficiar quem busca mais agilidade no dia a dia financeiro do negócio.
O Pix, por exemplo, permite transferências e pagamentos em qualquer horário, sem a necessidade de agendamento ou espera para liquidação. A depender da instituição financeira, ele pode ser gratuito para contas empresariais ou apresentar taxas menores que as cobradas em TEDs.
Além disso, a interface simples e a integração com sistemas de gestão financeira tornam essa ferramenta especialmente útil para quem precisa de controle e rapidez nas operações. Apesar do crescimento do Pix, a TED continua disponível como alternativa viável, sobretudo em situações que exigem uma forma de transferência com documentação formalizada ou quando se trata de valores mais elevados.
Por esse motivo, é importante conhecer os detalhes e limitações de cada modalidade, além de acompanhar as condições oferecidas pelas instituições para decidir o que melhor atende às necessidades do negócio.
Quais são os custos envolvidos?
As tarifas aplicadas às transferências via TED ou, até recentemente, via DOC, variam de acordo com o banco, o tipo de conta (PF ou PJ) e o canal utilizado para a operação. Em contas empresariais, é comum que os bancos cobrem por operação, com valores que geralmente ficam entre R$ 8 e R$ 20. Esse custo pode impactar diretamente o fluxo de caixa das empresas, principalmente daquelas que realizam muitas transações por mês.
O cenário tem incentivado o crescimento de contas digitais voltadas ao público empresarial, como as oferecidas por fintechs e bancos digitais. Muitas dessas instituições passaram a incluir pacotes com TEDs ilimitadas, cobranças reduzidas ou, até mesmo, isenção de taxas, o que amplia a competitividade do mercado e ajuda micro e pequenas empresas a reduzirem seus custos operacionais.
Essa mudança tem sido relevante para empreendedores que dependem da agilidade nas transações bancárias, mas também precisam controlar as despesas financeiras com precisão. Vale lembrar que o Pix, além de ter liquidação instantânea, possui estrutura de tarifas bastante diferente. Para empresas, a cobrança depende do modelo de conta e da política da instituição financeira.
Algumas fintechs e bancos não cobram para receber via Pix, enquanto outras aplicam tarifas apenas em situações específicas, como cobranças automatizadas ou integração com sistemas de cobrança. Esse modelo mais flexível tem impulsionado a adesão ao Pix por parte de pequenos negócios, que veem nele uma solução para reduzir custos sem abrir mão da eficiência.
Quais dados são necessários para transferir via TED ou DOC?
Para realizar qualquer uma das transferências, os dados abaixo são obrigatórios:
- Nome completo ou razão social do favorecido;
- CPF ou CNPJ;
- Banco de destino (com código);
- Número da agência e da conta;
- Tipo de conta (corrente ou poupança).
Erros nesses dados podem impedir a conclusão da transferência ou direcionar os valores para contas equivocadas. É recomendável revisar todas as informações antes de confirmar a operação.
Como consultar transferências realizadas?
As transferências por TED ou DOC ficam registradas no extrato bancário da empresa. Além disso, é possível obter comprovantes digitais com o código de autenticação, que podem ser armazenados para fins contábeis ou de auditoria.
A maioria dos bancos permite acessar esses comprovantes por meio de seu aplicativo ou site. Em caso de dúvida ou necessidade de reenvio, o suporte bancário pode auxiliar.
TED ou Pix?
Embora o Pix tenha ganhado grande adesão, a TED segue tendo espaço, especialmente em casos de:
- Transferências empresariais com valor elevado;
- Situações que exigem registro bancário mais formal;
- Agendamento de pagamentos com data futura;
- Relações comerciais que não utilizam Pix.
A escolha entre TED e Pix depende do contexto da transação e da estrutura do negócio. Empresas que lidam com grandes volumes ou necessitam de formalidade documental podem continuar utilizando a TED como alternativa viável.
Futuro das transferências bancárias e a chegada do DREX
O sistema financeiro brasileiro passou por uma transformação significativa com o lançamento do Pix. Em 2022, o sistema movimentou mais de R$ 10 trilhões, de acordo com dados do Banco Central.
Com isso, meios tradicionais como DOC e TED perderam espaço, mas não foram totalmente descartados. A evolução das transferências é parte de um movimento mais amplo de digitalização, automação e integração bancária, que favorece a competitividade e amplia o acesso a serviços financeiros por pequenas empresas.
Além do Pix, outro avanço que deve impactar o futuro das transferências é o Drex, a moeda digital brasileira em desenvolvimento pelo Banco Central. O Drex promete trazer mais segurança, rapidez e eficiência para transações digitais, integrando novos recursos ao sistema financeiro e criando possibilidades para empresas inovarem em pagamentos e serviços.
Compreender as diferenças entre DOC, TED, Pix e ficar atento a novas soluções como o Drex ajuda empresários a tomar decisões financeiras mais estratégicas. Para microempreendedores e pequenos negócios, esse conhecimento facilita o controle de fluxo de caixa, evita atrasos em pagamentos e melhora a relação com fornecedores.
Apesar de o DOC estar sendo descontinuado, a TED ainda representa uma opção útil em diversas situações comerciais. Cabe à empresa avaliar suas próprias necessidades e escolher o meio de transferência mais adequado para cada operação.
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